
O tempo passa despercebido em meio a dias estranhos de isolamento. Alguns dias são melhores que outros, uns mais longos, outros mais curtos. A paisagem é sempre a mesma. As companhias, nunca mudam. Só noto o avanço dos dias ao sentir a franja chegar aos olhos, ao ver a geladeira esvaziar. A poeira acumulada nos cantos denuncia que há algum tempo meu olhar andou distraído e a motivação esteve em falta. Talvez seja a falta de sono, ou o cansaço de mais um dia carregado das mesmas notícias, dos mesmos medos, das mesmas tentativas de manter as esperanças.
A chuva ricocheteando no vidro combina com as lágrimas que escorrem dos meus olhos e as fortes batidas do meu coração. Queria um abraço, um riso, um mergulho no mar. Mas, enquanto risco o calendário na parede – mais num ato simbólico do que outra coisa –, só o que posso fazer é mergulhar em um livro atrás do outro na tentativa de viver uma vida diferente da minha.
E respirar fundo, procurando manter a calma.
Amei. Me identifiquei muito!
Os meus dias estão bem assim também. Compartilho do mesmo sentimento. Amei!